Não me lembro de quando ou onde arrumei esta câmera. Ela é antiga (tem no mínimo uns 100 anos) e a qualidade de suas fotografias não é tão boa, mas eu gosto dela. Gosto da forma como ela remete a um outro tempo, onde tudo era diferente -- um mundo saudável; as pessoas vivendo em paz (na medida do possível), a natureza em equilíbrio...

Tirar fotos de um mundo como esse valeria a pena.

Mas ele não existe mais, então eu guardo a câmera, junto dos restos de esperança que restam em mim, bem escondida no fundo do armário.


Nasci nas Colinas e vivi lá a maior parte dos meus dezenove anos. Meu pai e eu vivíamos numa casa extremamente simples: ao contrário dos moradores da Cidade, nós não queríamos fazer dos produtos ultra high-tech uma necessidade, então tínhamos somente o necessário. Os móveis da cabana onde morávamos eram rústicos, verdadeiras relíquias de um mundo há muito morto.

Por causa das preferências de meu pai, aprendi a escrever à mão e a distinguir o que era comestível ou não; poderia caçar se necessário e sabia me virar em qualquer situação.

E embora meu pai tivesse me ensinado tudo o que sabia, não podia me ajudar a controlar meus poderes. Ao contrário de mim, ele não nasceu um Airbender. Eu herdei meus poderes de minha mãe.

Não cheguei a conhecê-la, pois ela morreu pouco depois d'eu nascer. Pelo que sei, não foi só seus poderes que eu recebi como herança, mas também a pele mais morena (ou, como o meu pai me ensinou, latina) e os olhos castanho-escuros. Meu pai tem-os na cor de um azul profundo, e sua pele, embora bronzeada, é branca como seiva de árvore.

Mas, embora eu e ele sejamos quase que totalmente diferentes nas aparências, concordamos que a artificialidade do mundo é de assustar. A tecnologia fez com que diversos "avanços" fossem realizados, como obras arquitetônicas das mais grandiosas; armas das mais poderosas (como se já não bastasse o que houve ao nosso mundo); as pessoas passavam cada vez mais tempo em mesas de cirurgia para terem a aparência alterada.

Bem, eu sou um pouco averso a todas essas coisas tão sintéticas, e normalmente não me envolveria com pessoas mais do que o necessário, porém há coisas maiores do que nós mesmos.

Que é exatamente o que me impele a tentar ajudar na reconstrução, ao menos parcial, de nosso mundo.