– Hey! Você não enxerga por onde and...?! – A frase do homem interrompeu-se quando o mesmo fitou a pequena garota que havia esbarrado em si. Os olhos dela eram castanhos, mas suas pupilas tinham uma cor leitosa que deixava claro que a oriental era cega.

– Desculpe-me senhor. – Disse ela em um tom choroso arrancando quase que instantemente as palavras de perdão do outro que substituíra toda sua raiva por pena e compaixão.

As pessoas eram assim: ao menor sinal de alguma doença elas se tornavam receptíveis e transbordavam bondade para com o enfermo. Taiga sabia disso e usava de proveito próprio toda sua situação. Sua pequena estatura, feições delicadas e quase infantis tornavam ainda mais difícil enxerga-la como alguém ruim ou de caráter duvidoso, somado tudo isso a sua cegueira a pequena Taiga era quase um ser angelical. Obviamente as coisas não eram assim. Sabe o ditado que diz “não julgue um livro pela capa”? Neste caso ele é aplicado perfeitamente bem já que Chitanda não era nem um terço do que aparentava.

O homem no qual esbarrou – depois de pedir desculpas mil vezes – foi embora com certo peso na consciência... E sem dinheiro. O dinheiro que uma vez fora dele agora era contado pela cega que sabia quanto cada nota valia por conta do valor em braile em seu canto superior. Enquanto caminhava contando o dinheiro ela desviava de pessoas, pedras, postes, animais e qualquer coisa que irrompesse à sua frente como se seus olhos realmente funcionassem. Contudo tudo devia-se ao seu senso sísmico que provinha de seus dons como uma bender. Muitas vezes ela agradeceu pelo poder, ser cega sem qualquer dom naquele mundo conturbado de facções não parecia uma ideia agradável.

Taiga virou na rua seguinte onde um beco se estendia, no chão uma tampa de bueiro abriu-se e ela pulou lá dentro. Por um segundo no ar ela sentiu-se desconfortável, a pouca visão fora-lhe roubada, e quando tocou novamente o solo pode respirar nova e confortavelmente. Um homem fechou a tampa do bueiro novamente e seguiu atrás da menina enquanto a mesma caminhava caminho adentro pelos esgotos da cidade. Virou algumas vezes, pulou a pequena correnteza de água fétida outras e então finalmente alcançou seu destino. À frente uma enorme porta de pedra impedia qualquer um de saber da existência daquele lugar. A rocha moveu-se dando entrada à menina e lá dentro ela “viu” todos ficarem de pé em quase uma formação militar. Taiga tirou o dinheiro do bolso e entregou à uma das pessoas ali e logo dirigiu-se a uma cadeira feita de pedras aonde jogou-se espalhafatosamente deitando horizontalmente no cômodo.

Pode parecer bizarro, mas aquela era a sua casa. Aqueles eram as pessoas de sua família. Mais conhecidos como o Clã Nomura, foram um dos poucos clãs restantes da Yakuza. Taiga era a filha do líder, o qual havia morrido cerca de 7 anos atrás, por este motivo ela agora liderava, e apesar de cega ninguém questionava sua autoridade ou mesmo se impunha a tal. Taiga, diferente de seu pai, não gostava de se envolver com assassinatos ou coisas do tipo, porém roubos – principalmente de pessoas ricas, esnobes e arrogantes – ela não via mal algum em fazer. Ela não era do tipo que sentia saudades dos pais, afinal seu pai era um babaca e sua mãe... Bom, ela não sabia quem era sua mãe, mas isso pouco importava.

Encostou a cabeça no braço de pedra da cadeira deixando sua franja e cabelo caírem para trás. Sua cicatriz de corte vertical que transpassava a sobrancelha esquerda ficava nítida sem o cabelo a frente, e todos que a viam desviavam os olhos. Ela havia a conseguido no dia que seu pai morrera enquanto tentava salvá-lo de firebender que eram muito bom com espadas. Resultado: seu pai morreu, conseguiu uma cicatriz, deu uma cicatriz ao seu agressor, mas ele fugiu. Taiga não era do tipo que se importava muito com as pessoas, mas ela definitivamente não gostava de firebenders – ou de waterbenders, eles se achavam demais.

– Estou entediada. – Disse ela de repente, arrancando alguns sorrisos e alguns suspiros cansados de outros. – Vamos... passear. – Um sorriso largo e divertido surgiu em seus lábios enquanto seu olhar opaco fitava o teto onde logo acima uma rua movimentada se estendia, o Mercado, no caso.